Um retrato da maturidade das organizações na jornada para incorporar tecnologias digitais e criar diferenciais valiosos para seus negócios
As empresas brasileiras estão compreendendo cada vez mais relevância às inovações digitais, mas o ritmo de integração de novas soluções e seu verdadeiro impacto ainda dependem de uma governança eficaz e de estratégias alinhadas às realidades operacionais e de mercado.
Essa é uma das principais constatações da segunda edição do nosso relatório sobre o Índice Transformação Digital Brasil (ITDBr), que destaca a necessidade de maior maturidade em inovação e a devida compreensão sobre os avanços digitais nas empresas do país.
O estudo é resultado da colaboração entre a PwC Brasil e o Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral (FDC). Nossas análises se estruturam em uma metodologia própria, desenvolvida para sistematizar a avaliação do progresso da transformação digital em um índice mensurável, que permita monitorar de forma contínua o processo e oferecer diretrizes para a adaptação de empresas, governos e da sociedade em geral ao dinamismo da tecnologia.
Este ano, o ITDBr médio das empresas participantes da pesquisa ficou em 3,7. É um nível de maturidade para inovação e tecnologias digitais ainda baixo, mas representa uma melhora em relação aos 3,3 registrados no ano anterior, como reflexo da relevância crescente que os tomadores de decisão têm atribuído aos temas pesquisados.
Uma estratégia digital eficaz se inicia com um claro mapeamento de oportunidades e uma visão de futuro tanto para a empresa quanto para o negócio digital. Isso inclui a criação de um plano inicial de 100 dias, além de uma estratégia para o curto, médio e longo prazos, identificando as tecnologias necessárias para concretizar essa visão de futuro digital.
Itens com melhor e pior avaliação
4,8
Qual é a importância da estratégia de transformação digital na sua organização?
3,8
A estratégia de transformação digital tem um plano de metas estabelecido e adoção de métodos ágeis para a sua execução?
“A tecnologia, historicamente, evolui para aumentar a eficiência do trabalho e impulsionar novos negócios e serviços. Hoje, o que estamos vendo com a primeira onda da inteligência artificial generativa é exatamente isso. Observamos nesta edição da pesquisa um salto muito grande no índice de inteligência artificial, o que já era esperado, mas com foco principalmente em eficiência. Afinal, a IA generativa democratizou o uso da inteligência artificial na força de trabalho, promovendo uma eficiência mais ampla e massiva e alcançando diretamente o usuário final.”
Mais da metade dos participantes do estudo faturam acima de R$ 1 bilhão por ano.
Empresas menores adotam ações mais pontuais
Em empresas com faturamento abaixo de R$ 300 milhões, 48% adotam uma abordagem seletiva, bem menos que as 57% do ano passado. Em comparação com 2023, houve um aumento no número de empresas visionárias (de 20% para 27%) e otimizadoras (de 23% para 24%), o que indica uma adoção mais abrangente da transformação digital nesse tipo de organização.
Entre as empresas que faturam acima de R$ 1 bilhão, há uma proximidade entre otimizadoras (49%) e seletivas (44%). Porém, apenas 8% são visionárias. Na edição passada, as visionárias também constituíam o menor grupo, mas com percentual bem maior (13%), enquanto as empresas seletivas predominavam (53%) e as otimizadoras representavam apenas 32% do total.
Respondentes na administração executiva das empresas participantes correspondem a 56% do total. Outros 5% estão no conselho de administração.
“Observamos no estudo – e, de forma geral, no mercado – um aumento na percepção e na relevância que os tomadores de decisão têm dado às inovações e tecnologias digitais. O desafio, porém, não está na inovação em si, mas nos mecanismos de governança que a acompanham. O problema é que o nível de maturidade para integrar verdadeiramente as tecnologias digitais ainda é muito baixo, como observado na primeira edição do nosso estudo. Por isso, enfatizamos constantemente, desde o ano passado, a necessidade de focar não só na tecnologia, porque as tecnologias mudam. Sem uma estratégia de governança adequada – que envolva a estrutura organizacional, as alçadas de decisão e os investimentos – essa maturidade continuará em níveis baixos.”
A evolução do índice por indústrias revela melhorias em todos os setores de 2023 para 2024, com destaque para Saúde e Produção industrial, que registraram o aumento mais acentuado. Apenas duas indústrias ficaram na média geral: Consultoria e serviços e Agronegócio.
Cresceu de 67% para 76% o percentual de respondentes que selecionam a visão estratégica como o termo que melhor resume o entendimento que eles têm da transformação digital nas organizações. As outras principais escolhas mostram uma valorização maior da análise de dados e da otimização de processos, além do reconhecimento da relevância da inovação com tecnologia que beneficie diretamente os clientes.
Para quase metade dos participantes, o quesito estrutura e cultura organizacional continua sendo o principal obstáculo para o progresso na agenda de transformação digital. Isso mostra que a resistência a mudanças é o principal desafio no processo. A falta de visão de um modelo de negócios (22%) e a aversão ao risco (20%) são outros problemas importantes. Mais de um quarto dos gestores (28%) consideram, no entanto, que não existem obstáculos a serem enfrentados.
Embora a transformação digital ainda seja vista como benéfica em várias áreas, os resultados indicam uma revisão nas expectativas sobre sua capacidade de gerar novos modelos de negócio e serviços. Esse ajuste pode ter sido influenciado por experiências práticas ou por um entendimento mais profundo dos desafios da inovação digital.
Há uma demanda por melhor alinhamento e refinamento na gestão e estratégia para maximizar os benefícios da digitalização. O item Planejamento estratégico e gestão (27%) é considerado o principal campo que precisa de melhorias na estratégia de transformação digital.
A inteligência artificial (20%) lidera as preferências entre as tecnologias de fronteira adotadas, o que reflete o vasto potencial da IA em transformar negócios com base em automação, análise de dados avançada e capacidades de aprendizado de máquina. A categoria mais mencionada – Outros (25%) – inclui tecnologias como ferramentas financeiras, visão computacional e biotecnologia e mostra que muitas empresas estão explorando nichos tecnológicos para atender suas necessidades específicas.
Pouco mais de metade das organizações (55%) avalia os impactos da transformação digital em sua estratégia ESG (sigla para ambiental, social e governança), o que indica espaço significativo para melhoria nas empresas em termos de conscientização sobre a importância de alinhar as práticas digitais com a responsabilidade social e ambiental. A maioria (46%) ainda não integrou completamente as competências de tecnologia digital com os temas de ESG, mas 41% das empresas já adotam essas práticas.
Nosso estudo revela que a maioria das organizações (92%) considera o uso ético e moral dos dados e tecnologias digitais como parte fundamental de suas estratégias. Esse resultado destaca uma forte preocupação com a responsabilidade, integridade e conformidade legal. Além disso, 95% dos respondentes dizem que a segurança da informação está bem alinhada à governança e ao compliance, contribuindo para reduzir riscos de segurança, além de fortalecer a confiança de investidores, clientes e parceiros.
Para assegurar sucesso e crescimento sustentável, as empresas brasileiras devem integrar a tecnologia de maneira estratégica e operacional em seus negócios. É fundamental alinhar cada investimento tecnológico com os objetivos da empresa, tratando as tecnologias como ferramentas para viabilizar transformações, e não como um objetivo em si.
A capacidade intelectual e a formação da mão de obra são fundamentais nesse processo. Empresas comprometidas com o desenvolvimento contínuo de seus profissionais são mais adaptáveis às novas tecnologias e capazes de incorporá-las efetivamente aos seus fluxos de trabalho. Essa maturidade intelectual propicia um ambiente que favorece a inovação e otimiza os investimentos tecnológicos.
Ao seguir essas diretrizes, as empresas brasileiras estarão mais bem preparadas para enfrentar os desafios da economia digital e se posicionar como líderes de mercado, diferenciando-se pela inovação e eficiência operacional.