Estilo de vida saudável para pessoas idosas: oportunidade ou escolha?

Autora: Grace Angélica de Oliveira Gomes, docente no Departamento de Gerontologia da UFSCar

(Imagem: Karen Pulgatti)

Texto16Você, leitor e leitora dessa coluna, acredita que está envelhecendo de forma saudável? O termo envelhecimento saudável se refere ao desenvolvimento e à manutenção de habilidades funcionais que fortalecem o bem-estar na fase da velhice. A fim de garantir essas habilidades, uma das grandes estratégias é a promoção de um estilo de vida saudável. Mas, afinal, o que é estilo de vida? Se refere a hábitos desenvolvidos a partir de escolhas e oportunidades que podem preservar ou prejudicar a saúde[1]. Um estilo de vida saudável está associado a vários benefícios ao longo da vida, em especial na fase da velhice. A prevenção de quedas, sarcopenia, dores e de um baixo desempenho cognitivo é possível por meio de um estilo de vida saudável, segundo a literatura científica.

Para avaliar como é o estilo de vida de uma pessoa ou de um grupo de pessoas, as pesquisas analisam aspectos como qualidade de sono, controle do estresse, prática  regular de atividade física, hábitos alimentares, necessidade de realização de exames e consultas médicas regulares, engajamento e qualidade das relações sociais. Quanto mais estes fatores são cumpridos e controlados, melhor o estilo de vida dos indivíduos.

Entretanto, embora muitas pessoas considerem importante ter um bom estilo de vida ao longo da vida para obter saúde e bem-estar, apenas 27% da população consegue aplicar estratégias que garantam um estilo de vida saudável na rotina diária[2]. Você já deve imaginar que, quanto maior o nível socioeconômico e a escolaridade de uma pessoa, melhor será sua saúde. Assim, os maus hábitos de vida estão fortemente associados a indivíduos de baixa renda, do sexo feminino e mais velhos, o que possivelmente tem uma grande relação com a falta de oportunidades de vida, de acesso à saúde, informação e disponibilidade de tempo para autocuidado. Ou seja, bons hábitos de vida nem sempre dependem somente de escolhas, o que é um fator importante a ser considerado.

Além das condições socioeconômicas, as falsas crenças associadas à velhice também são barreiras para um estilo de vida mais saudável. São frequentes os relatos sobre hábitos alimentares com o mesmo padrão durante toda a vida - como, por exemplo, comer apenas pão, manteiga e café na primeira refeição do dia, ou a escolha por menos movimento na fase da velhice, com as já comentadas atitudes idadistas: “sou velho demais para fazer atividade física”; ou, ainda, a resistência em fazer novas amizades. Estes comportamentos podem impedir mudanças importantes para uma vida mais saudável na fase da velhice.

Outro determinante de um estilo de vida saudável é o acesso à informação. Quando conteúdos sobre estilo de vida são disponibilizados, há uma melhor compreensão da sua importância. Isso também permite que as pessoas coloquem em prática as estratégias de autocuidado com a saúde. Quando o conhecimento é adequado e há uma associação com oportunidades de planejamento de uma vida mais saudável, a chance de obter os benefícios é maior. Portanto, políticas públicas que fomentem e fortaleçam estas possibilidades para toda a população – em especial aquelas de menor nível socioeconômico – são muito importantes.

Ainda, para a maioria das pessoas, o estilo de vida pode ser oscilante ao longo da vida. Por exemplo, indivíduos casados, com maior número de filhos e que trabalham muitas horas por semana na idade adulta possuem maior chance de ter maus hábitos alimentares e menores níveis de atividade física do que quando eram solteiros e sem filhos. Mulheres que exercem o papel do cuidado na fase adulta possuem menor qualidade do sono. Pessoas idosas possuem maiores chances de baixa qualidade de relações sociais na fase final da velhice. Homens realizam menos consultas médicas regulares ao longo da vida e mulheres negras possuem maiores níveis de estresse na fase adulta[3]. Isso mostra que momentos específicos ao longo do tempo afetam o estilo de vida de uma pessoa de forma significante.

Por fim, a mensagem importante é que o estilo de vida não é estático e é preciso aceitar e respeitar a existência de barreiras momentâneas ao longo da jornada. O segredo pode estar em aproveitar o que cada fase da vida oferece como uma oportunidade para equilibrar o estilo de vida nestas diferentes etapas da trajetória. E, ao ter uma oportunidade para ações de autocuidado, é importante estar disponível e aberto a mudanças, mesmo que na fase da velhice. Os benefícios podem ser adquiridos a partir de qualquer idade, portanto, nunca é tarde para mudanças positivas no estilo de vida.

[1] Cockerham. Health Lifestyle Theory and the Convergence of Agency and Structure. Journal of Health and Social Behavior, v. 46, n. 1, p. 51–67, 2005

[2] BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. VIGITEL 2022: Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas em Inquérito Telefônico. Brasília: Ministério da Saúde, 2023

[3] Gomes et al., 2020. Twelve year trajectories of physical activity and health costs in mid-age Australian women. International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity. 17:101.

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