Por que envelhecemos?

Autora: Marcia Regina Cominetti, docente no Departamento de Gerontologia da UFSCar

(Imagem: Pixabay)

texto1Você já se perguntou por que envelhecemos? Cientistas criaram teorias biológicas para explicar esse processo, que possui também componentes sociais e psicológicos.

As teorias biológicas do envelhecimento se enquadram em duas categorias: as programadas e as de dano ou erro. As teorias programadas sugerem que o envelhecimento segue um cronograma biológico, talvez uma continuação daquele que regula o crescimento e o desenvolvimento na infância. Essa regulação dependeria de alterações no funcionamento de genes que afetam os sistemas responsáveis pela manutenção, reparo e respostas de defesa do nosso corpo. Por outro lado, as teorias de dano ou erro enfatizam as agressões ambientais aos organismos vivos. Em conjunto, essas teorias se complementam ao abordarem a importância da genética e do ambiente sobre o envelhecimento humano.

Nas teorias programadas, o encurtamento telomérico merece destaque. Nosso DNA é ‘escrito’ nos cromossomos, dos quais carregamos 23 pares. As pontas de cada cromossomo são conhecidas como telômeros e agem de maneira semelhante ao plástico nas pontas dos cadarços, evitando que os cromossomos se ‘desfiem’.

À medida que envelhecemos, por uma dificuldade de replicação nas pontas do DNA durante as divisões celulares, os telômeros tornam-se cada vez mais curtos e, portanto, seu comprimento pode ser usado para medir o envelhecimento. Em 2009, Elizabeth Blackburn, Carol Greider e Jack Szostak receberam o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina por seu trabalho sobre a relação entre envelhecimento das células, a enzima telomerase e o câncer. Eles descobriram que a telomerase pode proteger os cromossomos do envelhecimento, pois ela regenera os telômeros, impedindo seu encurtamento, o que ajuda a manter a juventude biológica das células. Mas, calma: antes de procurar onde comprar telomerase, saiba que ela tem alta relação com o câncer, sendo ativa na grande maioria dos tumores. E é por isso que as células tumorais têm a capacidade de se dividir indefinidamente, ou seja, são imortais.

Já nas teorias de dano ou erro, os radicais livres são bastante estudados. Essas moléculas instáveis – que são produzidas em excesso devido à própria respiração celular pelas mitocôndrias, mas também ao tabagismo, estresse, exposição aos raios ultravioleta, poluição, dentre outros – contribuem para o envelhecimento ao danificar as células e moléculas do nosso corpo.

Os radicais livres contêm número ímpar de elétrons, que é o que os torna instáveis. Eu costumo brincar que se os radicais livres fossem pessoas, eles estariam nos aplicativos de encontros buscando o parceiro ideal porque, para garantir estabilidade, essas moléculas precisam doar ou receber elétrons, para recuperar seu número par. Em algumas situações, eles fazem isto atacando células saudáveis, o que pode acarretar algumas desordens metabólicas, dano celular e até mesmo doenças crônicas.

Os antioxidantes são o ‘match’ perfeito para os radicais livres. Vitaminas, minerais, enzimas e outras substâncias químicas agem como antioxidantes que têm a capacidade de doar um de seus elétrons aos radicais livres e ainda continuar estáveis, interrompendo o estresse oxidativo. Pesquisas mostraram que com as células saudáveis protegidas da oxidação, várias doenças podem ser prevenidas.

As teorias biológicas do envelhecimento nos remetem a outra questão: você já se perguntou quando começamos a envelhecer? Aos 60 anos, idade em que somos considerados idosos pela Organização Mundial da Saúde? Aos 25, 30? Ou já quando nascemos?

Talvez para sua surpresa, o envelhecimento pode ser influenciado antes mesmo de nascermos. Usando um modelo animal de ratos, pesquisadores da Universidade de Cambridge[1] descobriram que os filhos de mães com níveis mais baixos de oxigênio no útero – o que, em humanos, pode ser consequência do fumo durante a gravidez ou da gravidez em altitude – envelheceram mais rapidamente na idade adulta. Eles também mostraram que fornecer antioxidantes (lembram deles?) às mães durante a gravidez fazia com que seus filhos envelhecessem mais lentamente na idade adulta.

Entretanto, o envelhecimento é um processo muito heterogêneo, em parte porque possuímos distintas bases genéticas e também porque somos diferencialmente expostos a agentes que causam envelhecimento. Isso significa que eu não envelheço da mesma forma que você e você não envelhece da mesma forma que seus pais ou mesmo irmãos. E mais: cada órgão de nosso corpo envelhece de maneira diferente. Além de outras razões, isso acontece porque nossa idade cronológica é diferente de nossa idade biológica. A idade cronológica é contada pelos nossos aniversários ou o tempo de vida desde que nascemos e que está registrado em nossos documentos. A idade biológica está relacionada à nossa saúde, à qualidade com que levamos a vida.

Independentemente de como acontece ou de quando inicia o processo de envelhecimento, ao final dessa leitura, você envelheceu alguns minutos. Mas, como disse Albert Camus: “envelhecer ainda é o único meio de viver muito tempo”!

Referências

[1] Allison BJ, Kaandorp JJ, Kane AD, Camm EJ, Lusby C, Cross CM, Nevin-Dolan R, Thakor AS, Derks JB, Tarry-Adkins JL, Ozanne SE, Giussani DA. Divergence of mechanistic pathways mediating cardiovascular aging and developmental programming of cardiovascular disease. The FASEB Journal, 2016; https://doi.org/10.1096/fj.201500057