Ciclocosmo

Um blog para quem ama bicicletas

Ciclocosmo - Caio Guatelli
Caio Guatelli
Descrição de chapéu saneamento

Belém, sede da COP30, vive crise na coleta de lixo

Prefeitura anunciou ação emergencial até encontrar uma solução definitiva

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

  • 19

Escolhida como sede da COP30, a conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas), Belém começou o ano com diversas ruas tomadas por pilhas de lixo. O problema na capital paraense se arrasta desde junho do ano passado e envolve deficiência no sistema de coleta gerida pelo município, esgotamento da capacidade do aterro sanitário e uma dívida de R$ 15 milhões da prefeitura com empresa que faz o tratamento dos resíduos.

Em alguns pontos o atraso na coleta é tão grande que as pilhas de lixo chegam a bloquear completamente as calçadas e se estendem por boa parte das pistas de automóveis, obrigando pedestres a caminhar em meio aos carros e ônibus.

Ciclistas desviam de lixo acumulado na avenida Pedro Álvares Cabral, em Belem, na terça-feira (2). Cidade vive crise sanitária - Caio Guatelli

Na avenida Pedro Álvares Cabral, que cruza a cidade de leste a oeste, trechos da ciclovia e do canteiro central foram transformados em pontos de descarte, atraindo bandos de urubus e ratos para a frente de casas, restaurantes, bares e padarias.

Indignados com a situação, moradores do bairro Pedreira atearam fogo em entulhos e em sacolas de lixo que se acumulava em uma das pistas da avenida Arthur Bernardes na tarde de terça-feira (2), bloqueando completamente a via que serve como principal acesso ao aeroporto internacional Val de Cans por cerca de uma hora.

Na manhã de sexta-feira (5), o prefeito Edmilson Rodrigues (PSOL) lançou a operação "Limpezão Emergencial" como tentativa de restabelecer a limpeza urbana enquanto a cidade não encontra uma solução definitiva para a coleta de lixo.

Cercado por mais de mil agentes de limpeza e exibindo 74 caminhões de coleta de lixo na pista do sambódromo Aldeia Cabana, o prefeito disse em entrevista coletiva que a crise do lixo foi provocada por uma queda na arrecadação municipal, que segundo ele perdeu quase R$ 400 milhões de ICMS em 3 anos, e por contratos malfeitos com o aterro sanitário de Marituba por gestões anteriores.

"Toda essa crise instalada há mais de 10 anos tinha que ter uma solução", disse Rodrigues. "Estamos concluindo uma licitação, e possivelmente na segunda-feira (8) anunciamos a empresa vencedora, e se instala em Belém um novo sistema de limpeza urbana e tratamento dos resíduos com destino dentro dos padrões internacionais. Será uma revolução", completou.

No mesmo evento, a secretária de saneamento básico de Belém, Ivanilse Gasparin, disse que a ação emergencial deve durar dois meses até que seja concluída a PPP (parceria público-privada) de coleta de lixo da capital paraense, cujo processo de licitação começou em março de 2023 e teve diversos adiamentos provocados por decisões do TJ-PA (Tribunal de Justiça do Pará).

Além da coleta deficiente, Belém também enfrenta dificuldades para a destinação do lixo. O aterro sanitário do município de Marituba, que atende Belém e os municípios de Ananindeua e Marituba desde 2015, atingiu o limite de sua capacidade em julho de 2019, mas, por não haver outra opção viável, teve seu fechamento adiado por acordos firmados no TJ-PA. O último, definido em 29 de novembro do ano passado, estendeu o funcionamento do aterro até 28 de fevereiro de 2025, nove meses antes da abertura da COP30. Na ocasião, o Ministério Público do Pará culpou as gestões municipais da Grande Belém pela falta de solução na destinação do lixo.

Em 30 de outubro, a Guamá Tratamentos de Resíduos, empresa que administra o aterro, chegou a anunciar a suspensão do recebimento de resíduos sólidos da capital do Pará após acusar a falta de pagamento por parte da Prefeitura de Belém —a dívida chegava a R$ 15 milhões na época. Segundo a empresa, a suspensão do serviço não durou mais que um dia, e as atividades de tratamento dos resíduos estão funcionando normalmente desde então.

Por nota, a Guamá esclareceu que não é responsável pela coleta dos resíduos, tampouco pela limpeza urbana, e que segue normas e padrões internacionais para "receber e tratar diariamente até 1.500 toneladas de resíduos domiciliares dos municípios de Ananindeua, Belém e Marituba, sendo que 70% advêm da capital". A empresa disse também que "sempre manteve uma postura aberta ao diálogo transparente e colaborativo com o poder público, renegociando valores a receber", e esclareceu ter obtido as licenças necessárias para manter o pleno funcionamento do aterro sanitário de acordo com as normas técnicas, ambientais e de segurança, até fevereiro de 2025.

Além do lixo, é comum encontrar esgoto correndo a céu aberto por terrenos baldios e até pelas ruas da capital paraense, principalmente nos bairros de baixa renda. "Isso aí é um descaso, e acontece há muito tempo", disse na noite de terça-feira a autônoma Iranilda Melo, 58, ao caminhar de mãos dadas com os netos Davi, de 5 anos, e Amanda, de 9 anos, pela movimentada pista da avenida Arthur Bernardes. A família voltava para casa, no bairro Pedreira, e teve que sair da calçada em ao menos três pontos onde as pilhas de lixo impediam a passagem. Os três ainda tiveram que saltar uma poça de chorume acumulada no meio-fio.

A autônoma Iranilda Melo, 58 e os netos Davi, de 5 anos, e Amanda, de 9 anos, passam por uma poça de chorume acumulada no meio-fio da avenida Arthur Bernardes, em Belém - Caio Guatelli

"Essa cidade toda está cheia de lixo, é uma vergonha, um nojo", disse a estudante Gisele Melo, de 46 anos, moradora do bairro Sacramenta. Assim como outros pedestres e ciclistas, a estudante foi obrigada a caminhar no contra fluxo da segunda faixa de rolamento da avenida Pedro Álvares Cabral, desviando dos veículos, porque a calçada e uma das pistas estava ocupada por sacolas de lixo e dezenas de urubus.

Dados da PNAD Contínua do IBGE, divulgados em junho de 2023, revelaram que o Pará é o estado com a quarta menor cobertura de esgotamento sanitário do país. Apenas 28% dos domicílios urbanos paraenses estavam conectados à rede coletora em 2022. A média nacional é de 78%.

A população com acesso à água potável na capital Belém corresponde a 76,8%, enquanto apenas 22,5% dos habitantes eram atendidos com coleta de esgoto em 2021, apontam dados do Instituto Trata Brasil. Apenas 3,6% do esgoto gerado na capital paraense é tratado.

Questionada pelo Ciclocosmo sobre a dívida com a Guamá e sobre os planos para melhorar seus índices de saneamento básico até a abertura da COP30, a Prefeitura de Belém não respondeu.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

  • 19

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.

Afonso Jorge Ferreira Cardoso

8.jan.2024 às 3h27

Essa matéria não é muito crível. Arthur Bernardes não é Pedreira, faz confusão com locais da cidade. Precisa de melhores informantes. Edmilson Rodrigues sempre teve problemas com licitação sobre lixo, sempre é boicotado por funcionários da prefeitura e até pela justiça do Pará. Juízes colocam dificuldades no fechamento de licitações só para prejudicar o prefeito. Edmilson é humanista e se preocupa com o povo sim e a situação não é grave como parece. Sempre foi um bom prefeito.

elcio matos

7.jan.2024 às 23h07

Essa matéria me lembra que muitas vezes a arte imita a vida real. Certa vez assisti um filme, uma comédia (tudo a ver com essa reportagem), onde, numa das cenas, havia uma palestra de um importante especialista em acidentes de trânsito que não pôde participar do evento devido a um acidente no trajeto ao local da palestra, pois ele estava correndo muito com seu carro porque se atrasara na saída de casa.

Pedro Adalberto Maia

7.jan.2024 às 21h06

Como morador de Belém, testifico que esse problema vem se arrastando por vários anos. Entra prefeito, sai prefeito e nada muda, porém muitos munícipes são também culpados por essa situação, haja vista descartarem todo tipo de material na via pública. Falta educação. Donos de animais não recolhem as fezes dos seus pets e vão sujando por onde passam. Se o poder público aplicasse a lei e fiscalizasse creio que o problema minimizado. Acredito que o Brasil vai passar vergonha na COP 30.