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A ave foi levada ao HVU para cuidados sem a parte superior do bico — Foto: Divulgação Uniube
José, como foi batizada a ave carcará no Hospital Veterinário de Uberaba, foi o primeiro da espécie no Brasil a receber uma prótese de bico feita de resina plástica. O animal é um gavião típico do cerrado e chegou ao hospital sem a parte superior do bico. A prótese foi feita pelo gerente clínico e médico veterinário, Cláudio Yudi, acompanhado de outros especialistas e alunos do curso de Medicina Veterinária da Universidade de Uberaba (Uniube). O material foi testado e aprovado para uso pelos especialistas.
O gavião foi resgatado pela Polícia Ambiental de Uberaba e levado ao HVU para cuidados. “Não sabemos o motivo que levou à perda da parte superior do bico, mas, possivelmente, foi um acidente envolvendo um veículo, porque essa ave vive próximo às rodovias para se alimentar, principalmente à procura de carcaças de outros animais silvestres, vítimas de atropelamentos”, esclarece Yudi, que também é responsável pelo Setor de Animais Silvestres do Hospital Veterinário.
O animal passou por exames no hospital e, em seguida, por adaptações no bico. “Foram produzidos modelos em resina plástica para ser implantado ao restante do bico. Além disso, diversos estudos sobre anestesia, comportamento animal, técnicas cirúrgicas e de implantes foram realizados antes da cirurgia”, continua o veterinário.
Participaram da aplicação da prótese os veterinários Ananda Neves Teodoro, Breno Oliveira Silva e Thaís Vendramini, além dos graduandos Henrique Mendonça Imada, Júlia Ciabotti Sedassari Galvão e Paola Stephanie Queiroz Amaral. “A nossa grande dificuldade não foi tanto produzir a prótese em resina plástica, mas uma maneira eficaz e duradoura da prótese ficar bem aderida, com a região cicatrizada do bico superior, porque a ave utiliza o bico para dilacerar pedaços de carne e, com isso, a força utilizada é muito grande nesta região. Houve necessidade de colocarmos parafusos de titânio, os mesmos usados em odontologia, para ficar muito bem fixada. No final deu tudo certo”, conta com muita alegria o médico veterinário cirurgião, Breno Oliveira.
A prótese foi feita pelo gerente clínico, estudantes de Medicina Veterinária e médicos especialistas do HVU — Foto: Divulgação Uniube
Claudio Yudi esclarece ainda que o sucesso desta nova prótese fez com que a equipe ficasse estimulada a produzir a mesma prótese em impressora 3D, e que está à procura de parceiros para auxiliar nesta nova etapa. “São necessários novos profissionais que entendam da modelagem em 3D e que o futuro das pesquisas será concentrado neste tipo de tecnologia, tendo em vista o barateamento do custo das impressoras. O conhecimento em medicina veterinária deve ser compartilhado, a troca de ideias sempre é muito benéfica e os resultados são extremamente satisfatórios”, completa.
A ave batizada de “José” está agora em adaptação com o novo bico no Setor de Animais Silvestres do Hospital Veterinário de Uberaba. “Nunca imaginamos que fosse possível que o José pudesse receber a prótese animal. Acreditamos que só em países desenvolvidos pudessem ter esta tecnologia, mas aprendemos que com o estudo e parcerias foi possível realizar a cirurgia. O José começou a comer no mesmo dia que foi realizada a cirurgia. Ficamos muito felizes com o sucesso e ter participado de todo o processo”, conta a estudante do 2º ano de Medicina Veterinária da Uniube, Paola Amaral.
Criatividade animal
O gavião José não é o primeiro a receber uma prótese criativa pelos profissionais do Hospital Veterinário de Uberaba (HVU). Foram, ao todo, nove animais atendidos, dentre aves carcarás, jabutis, cágado, lobo guará e até mesmo coruja. “Nós sempre tentamos trazer, ao mesmo tempo, tecnologias novas e simplicidade. Além disso, o trabalho em equipe, em que os alunos também participam ativamente e podem dar opinião sobre as atuações no Hospital. Hoje não é somente o professor que ensina, os alunos também dessa nova geração têm muito a nos ensinar”, finaliza.
Hospital Veterinário de Uberaba atende pequeno e grandes animais, além de animais silvestres encaminhados pela Polícia Ambiental — Foto: Divulgação Uniube
Participação Universitária
O HVU é referência na prática do curso de Medicina Veterinária da Uniube e suporte para programas de aprimoramento profissional, pesquisa e pós-graduação. Por meio dele, os estudantes conseguem ter experiência e habilidades no atendimento de animais. Para o coordenador do curso de Medicina Veterinária da Uniube, Dr. Eustáquio Resende Bittar, o hospital é importante na formação do médico- veterinário, oportunizando habilidades manuais necessárias para que o aluno consiga praticar e executar os trabalhos. “O HVU é o principal laboratório do curso e é essencial para a formação de um bom médico-veterinário e para que esse profissional tenha confiança em se inserir no mercado de trabalho, desenvolvendo um atendimento de qualidade e excelência”, pontua o doutor em Bioquímica e Imunologia. Eustáquio Resende.
O hospital atua desde 2000 e é fruto de uma parceria firmada entre a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu) – Fundação Educacional para o Desenvolvimento das Ciências Agrárias (FUNDAGRI) e a Universidade de Uberaba (Uniube). Ele possui uma equipe com mais de 30 veterinários altamente qualificados, que possuem mestrado, doutorado e pós-doutorado. No HVU a enfermaria possui mais de 25 leitos, além da UTI, bloco cirúrgico e laboratórios. O acompanhamento médico-veterinário está disponível 24 horas com o objetivo de atender os casos de Uberaba e região, além de fornecer um atendimento de melhor qualidade. “O Hospital Veterinário é dividido em duas grandes partes: pequenos animais e grandes animais. Os dois atendimentos têm em comum a cirurgia, os exames clínicos e a avaliação veterinária, ou seja, de fazer os exames e avaliar o animal como um todo, e também temos especialidades veterinárias, como cirurgia ortopédica, oftalmologia, homeopatia, neurologia, cardiologia por exemplo”, finaliza Cláudio Yudi.